Hoje, 29 de janeiro, é o Dia Nacional da Visibilidade Trans. A data, que surgiu em 2004, trata-se de um marco histórico na luta por reconhecimento de transexuais e travestis no Brasil. Apesar de alguns avanços e dos espaços que foram abertos para debate, o cenário brasileiro ainda é de insegurança, preconceito e violência.
Em 2019, a transfobia e a homofobia se tornaram crimes no Brasil e mesmo com a decisão do STF, relatório divulgado pela Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil) e do IBTE (Instituto Brasileiro Trans de Educação), mostra que em 2020, a violência contra mulheres trans só aumentou.
A realidade das pessoas trans no Brasil não é fácil. O acesso à educação é outro grande desafio, segundo o estudo da Ordem dos Advogados do Brasil, 82% das pessoas trans estão passiveis de evasão escolar devido à violência sofrida nesses ambientes. E o retrato disso está no mercado de trabalho, as oportunidades para transexuais e travestis no Brasil são raras.
As dificuldades surgem desde o processo seletivo até a garantia de um ambiente de trabalho inclusivo e seguro. Para Renata Simões, mulher trans e Gerente de Delivery da Lanlink, temos um longo caminho pela frente. “Apesar de termos alguma evolução nesse aspecto, ainda estamos muito longe do ideal, pois tudo começa na educação e ainda é muito difícil para as pessoas trans terminarem os estudos e ingressarem na vida profissional. Algumas multinacionais já têm esforços sobre a diversidade que incluem transexuais, mas essa não é a realidade da maioria dos lugares”, diz.
O mercado da tecnologia, por exemplo, vem crescendo cada vez mais, e consequentemente, aumentando sua demanda por profissionais, mas a área ainda não é inclusiva. “Programas de desenvolvimento profissional que capacitem e ofereçam oportunidades reais seriam muito bem-vindos. De um modo geral, a TI tem uma carência enorme de pessoas especializadas, se juntássemos essa necessidade com a capacitação inclusiva, acredito que dois problemas estariam sendo tratados”, afirma Renata.
Mesmo com qualificação e especialização, pessoas trans sempre se deparam com o preconceito, e às vezes, até optam por esconder quem realmente são para conseguir uma oportunidade de emprego. A pesquisa Workplace Divided, do Human Rights Campaign Foundation mostra que:
• 1 em cada 5 trabalhadores LGBTQ+ relatam ter sido informados ou que colegas de trabalho sugeriram que eles deveriam se vestir de maneira mais feminina ou masculina;
• 53% dos trabalhadores LGBTQ+ relatam ouvir piadas sobre lésbicas ou gays pelo menos de vez em quando;
• 31% dos trabalhadores LGBTQ+ dizem que se sentiram infelizes ou deprimidos no trabalho;
• e a principal razão pela qual os trabalhadores LGBTQ+ não relatam comentários negativos que ouvem sobre pessoas LGBTQ+ a um supervisor ou recursos humanos? Eles não acham que nada seria feito sobre isso – e eles não querem prejudicar seus relacionamentos com colegas de trabalho.
Renata já estava há 20 anos trabalhando na Lanlink quando decidiu contar para a alta gestão da empresa sobre sua transição. “Foi umas das experiências mais desafiadoras da minha vida, naquele momento pouquíssimas pessoas sabiam, e em momento algum antes de eu contar, deixei transparecer nada da minha transexualidade. Fui contando aos poucos para pessoas de confiança, confesso que me surpreendi bastante com o carinho que eu recebi, e fui criando confiança até o momento que eu virei a chave e a Renata surgiu plenamente no ambiente de trabalho. No começo eu senti sim, bastante medo, mas à medida que eu ia contando para as pessoas isso foi diminuindo. O apoio da alta gestão e dos colegas mais próximos foi crucial”, relembra a Gerente.
O Dia Nacional da Visibilidade Trans é um marco histórico, é dia de celebrar o que já foi conquistado, mas principalmente, essa data representa a luta das pessoas trans para ampliar os debates e os espaços de inclusão. “Representa uma possibilidade de tirar as pessoas transexuais da invisibilidade, dos guetos que durante muito tempo a sociedade nos empurrou. Estamos em pleno 2022 e ainda temos discussões sobre pronomes, banheiros... Se as pessoas praticassem o respeito de forma mais recorrente nada disso seria necessário”, completa Renata.
Diga não ao preconceito.
Por: Isabele Lessa - Redatora Jr